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Distúrbios de Ansiedade
02 de May de 2017

Distúrbios de Ansiedade

  • Saúde Mental

Medo, Ansiedade e Distúrbio de Ansiedade

Constantemente sofremos ameaças à nossa segurança nas suas mais diversas facetas (física, emocional, psicológica, profissional, financeira, entre outras). Às ameaças específicas e imediatas, nosso organismo desencadeia uma emoção primária denominada medo, com o objetivo de nos proteger.

Algumas vezes, entretanto, a ameaça não é imediata, mas a simples possibilidade da sua ocorrência já é suficiente para desencadear uma emoção semelhante, agora secundária, denominada ansiedade, e que também tem o objetivo de proteção.

Assim, é natural que frente a uma situação não confortável, como ir ao dentista, uma pessoa sinta medo e suas mãos fiquem frias e suadas, sua pele pálida e seu coração acelerado. Na verdade, antes mesmo de chegar ao dentista, ela já pode apresentar esses sintomas, mesmo que em menor intensidade, como uma forma de antever o acontecimento que está por vir. Esta emoção antecipatória é a ansiedade e ela faz parte da vida de todas as pessoas.

Entretanto, algumas vezes, a ansiedade ocorre com intensidade e frequência bem maiores do que o aceitável, provocando a redução da qualidade de vida e do rendimento profissional. Nestes casos, deixa de ser um fato normal e passa a ser uma doença, conhecida como distúrbio de ansiedade.

Distúrbios de Ansiedade – Ocorrência e Importância

No decorrer de suas vidas, pode-se dizer que em torno de 40 a 50% das pessoas irão apresentar algum tipo de distúrbio de ansiedade. Estas pessoas normalmente possuem criatividade, memória e compreensão acima da média, entretanto lidam pior com a dor e com o estresse.

A maioria delas não percebem que têm uma doença (ou porque não procuram o médico ou porque o médico não dá o devido valor às queixas) e ficam sem diagnóstico e, mais importante, sem tratamento.

O problema aumenta porque os distúrbios de ansiedade geralmente se associam a outros problemas de saúde mental e isso aumenta o risco de complicações. Ansiedade associada a depressão, por exemplo, aumento o risco de suicídio (tanto que, nas depressões graves, sintomas de ansiedade funcionam como sinais de alerta para o risco de suicídio).

Tipos de ansiedade

As pessoas vivenciam a ansiedade de forma diferente. Alguns têm ansiedade generalizada, que é administrável mas parece nunca sumir. Outras sofrem de ataques intensos de ansiedade. Outras vivenciam a ansiedade em situações sociais ou específicas. Outras necessitam ordem ou limpeza para relaxar. É importante saber qual tipo de ansiedade você apresenta, para achar o modo correto de aliviá-la.

1 – Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

O TAG é o tipo mais comum e disseminado de ansiedade. Compreende o estado progressivo de tensão e nervosismo sem causa específica ou por causa que não justificaria tal grau de ansiedade. A pessoa se sente constantemente no limite, preocupada, ansiosa ou estressada e que isso está acabando com a sua vida.

Sintomas:

Cansaço constante, irritação, fadiga, letargia, tensão muscular (costas, pescoço e ombros), dificuldade de concentração, pensamentos negativos.

Embora não seja a causa, o consumo de cafeína piora a ansiedade generalizada. Por isso, recomenda-se evitar o café, o energético, o refrigerante e o chocolate.

Outro detalhe importante é que ela normalmente se associa ao Transtorno do Pânico e ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

2 – Fobia Social (FS)

Ao longo da vida, 12% das pessoas vão apresentar algum tipo de fobia social, isto é, um medo irracional das interações sociais. Pequenas doses de timidez em locais públicos ou desconforto ao falar em público são naturais na maioria das pessoas. Mas, a fobia social ocorre quando a timidez é intensa e a ideia de interagir ou de falar em público (ou com estranhos, autoridades e às vezes até com amigos) causa medo e ansiedade intensos, a ponto de evitar situações de socialização.

Pessoas com fobia social apresentam:

  • Medo irracional de fazer algo estúpido e embaraçoso;
  • Medo constante de serem observadas, criticadas e julgadas;
  • Ansiedade extrema em qualquer situação de difícil manejo;
  • Medo intenso de falar em público;
  • Dificuldades intensas para conhecer novas pessoas.

Por conta disso, desenvolvem o comportamento de evitar situações sociais o máximo possível, como uma forma de aliviar a ansiedade. Com isso, perdem oportunidades na vida pessoal, afetiva e profissional. E como consequência do isolamento, apresentam maior propensão à depressão e ao alcoolismo.

3 – Transtorno do Pânico (TP)

Diferentemente do TAG, as pessoas com Transtorno do Pânico apresentam crises de altos níveis de ansiedade, denominadas Ataques de Pânico, que podem ser desencadeadas por estresse, outros distúrbios de ansiedade ou, simplesmente, por nada.

O Ataque de pânico é uma sensação intensa de que alguma coisa muito ruim vai acontecer. E isso causa sintomas físicos e mentais tão fortes que algumas pessoas precisam ser hospitalizadas, pela preocupação (delas e de quem presencia o ataque) de que algo está muito errado com sua saúde.

Sintomatologia física:

Taquicardia, sudorese, formigamento, falta de ar, tontura, dor no peito, dor no estômago e náuseas.

Sintomatologia mental:

Sensação de morte iminente, sensação de algo muito ruim vai acontecer, medo de ter uma doença grave e difícil de ser diagnosticada, sentimento de desamparo, despersonalização (sentimento de que a pessoa não é mais ela mesma).

É muito importante notar que os sintomas físicos podem preceder os mentais, e isso faz com que haja confusão com as doenças orgânicas. Assim, procurar assistência médica imediatamente ao ataque de pânico é uma ferramenta importante para pará-lo.

Outro detalhe importante é que o Transtorno de Pânico é caracterizado não só pelos ataques de pânico, mas também pelo medo de ter o ataque de pânico. Assim, é possível ter o Transtorno de Pânico sem ter muitos ataques de pânico.

4 – Agorafobia

Muitas vezes, preferimos ficar na segurança de nossos lares, por nos sentirmos vulneráveis fora. Mas, quando esse medo persiste por muito tempo e impede uma vida socialmente saudável, estamos diante de um distúrbio de ansiedade conhecido como agorafobia (do grego, medo de praça pública).

Ela normalmente (mas nem sempre) vem associada ao Transtorno do Pânico, e é caracterizada pelo medo intenso de multidões, de lugares abertos ou de lugares desconhecidos. Em resumo, é o medo de ter medo e não saber o que fazer.

5 – Fobia Específica

As fobias são sensações intensas de medo por conta de uma situação específica, que na maioria das vezes não é justificável racionalmente (mesmo porque, mais da metade das pessoas com fobias específicas não lembram como nem por que seus medos começaram).

Suas características principais são: o pensamento de desastre (crença de que o pior vai acontecer) e o comportamento de evitamento (fazer qualquer coisa para evitar o estímulo fóbico).

As pessoas com fobias específicas apresentam:

  • Medo constante e excessivo de uma situação específica;
  • Terror intenso quando confrontado com o estímulo fóbico;
  • Incapacidade de controlar o medo (mesmo sabendo que é irracional);
  • Afastamento exagerado para evitar o estímulo fóbico;
  • Mudança de rotina por conta do medo.

Alguns exemplos: catsaridafobia (medo de barata), ceraunofobia (medo de relâmpagos) e ofidiofobia (medo de cobras). Veja uma lista de outras fobias descritas em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_fobias

6 – Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)

O TEPT é um distúrbio de ansiedade que se inicia após um evento traumático (físico ou emocional) e pode durar por anos, ou até mesmo pela vida toda. Na maioria dos casos, a pessoa com TEPT é a que viveu o evento traumático, mas também pode ocorrer em quem testemunhou ou quem descobriu que alguém próximo vivenciou tal evento.

Sintomas:

  • Flashback (reviver o trauma, com suas sensações físicas e emocionais);
  • Resposta a gatilhos relacionados ao evento (sons parecidos aos ocorridos no evento, por exemplo)
  • Ansiedade antecipatória, com a ideia de repetição do evento
  • Problemas emocionais, como desinteresse pelo futuro, distanciamento amoroso, frieza afetiva.

Pessoas com TEPT vivem com uma quantia grande de estresse na maioria dos dias, com alta irritabilidade, fragilidade emocional e insônia grave. Por isso, o TEPT pode ser um problema difícil de se conviver, predispondo à depressão e ao alcoolismo.

7 – Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

O TOC é um distúrbio de ansiedade caracterizado por pensamentos obsessivos, de que não se consegue fugir, combatidos com comportamentos compulsivos para atenuar o sofrimento.

A obsessão é um pensamento intrusivo, desconfortável e repetitivo que a pessoa não consegue tirar da cabeça, não importa o quanto tente. Já a compulsão é um comportamento. É a necessidade de executar uma ação, de um modo muito específico, que a pessoa não consegue evitar de fazer.

Embora elas possam ocorrer isoladamente, o mais comum é a compulsão servir de ferramenta de alívio da obsessão. Por exemplo: uma obsessão seria achar que sua mãe vai morrer...e uma compulsão seria ficar ansioso se você não desvirar o chinelo. Muitas vezes os sentimentos estão ligados: você acha que sua mãe vai se você não desvirar o chinelo, e não consegue ficar tranquilo enquanto não levantar e desvirar o chinelo.

Os objetos mais comuns do TOC são:

  • Verificação (será que eu fechei a porta?);
  • Limpeza (preciso lavar a mão pra não adoecer!);
  • Contagem (se eu não contar quantos azulejos tem na sala, algo ruim vai acontecer!);
  • Confissão (tenho que confessar meus pecados agora, pois todos sabem que fiz algo errado!);
  • Simetria (preciso alinhar aquelas canetas. Elas estão tortas!).

Embora todo mundo tenha, em algum momento, pensamentos obsessivos e/ou comportamentos compulsivos, o que vai determinar se existe o TOC é o grau de sofrimento proporcionado pelos pensamentos e o tempo gasto na execução dos comportamentos.

Tratamento

O tratamento geral é baseado do tripé suporte-medicamento-terapia. O suporte é o apoio dos familiares e dos amigos e é fundamental para que a pessoa não se sinta sozinha e nem diferente. O medicamento tem como objetivo normalizar os neurotransmissores, possibilitando que as funções cerebrais ocorram na velocidade adequada. E a terapia, tanto na sua forma psicanalítica quanto comportamental, ajuda no controle das causas e gatilhos da ansiedade.

O tipo de ansiedade apresentado orienta o tratamento específico mais adequado a ser instituído. Cada paciente também requer um tratamento formatado para ele. Portanto, a interação entre o tipo de ansiedade, o paciente e o profissional que estiver conduzindo o caso é que determinará o sucesso do tratamento.

Dr. Adriano Brandão
CRM 17.468/PR